As Olimpíadas acabaram. Assim como eu não queria a
Copa do Mundo no Brasil, também não queria os Jogos Olímpicos. O Brasil não é
um país pobre; no entanto, os gastos não são bem administrados. A contradição é
evidente: belos estádios x hospitais e escolas de pires na mão.
Mas não adianta chorar pelo leite derramado.
Então, melhor pegar os limões e fazer uma jarra de limonada bem geladinha,
senão vejamos: observei que durante os Jogos não existiram paulistas, cariocas,
gaúchos, pernambucanos, baianos etc., mas tão só BRASILEIROS. O jovem atleta
Thiago Braz, quando foi ovacionado diante da conquista inédita, não era
paulistano, mas BRASILEIRO. Também não havia amarelos, negros, homossexuais
etc.: havia BRASILEIROS.
Ou seja: o Brasil se tornou um só. E até mesmo
aqueles que dizem ter vergonha do Brasil e vivem a praguejar por terem nascido
aqui, até mesmo esses estavam lá a vibrar a cada vitória de um brasileiro.
Prata, ouro, bronze? O que importava isso? Era mais um brasileiro no pódio.
E foi assim que os Jogos Olímpicos se revelaram ao
mundo como um poderoso integrador social. Mas ficará a lição? Havia tantas
modalidades diferentes, muitas, inclusive, das quais eu nunca ouvi falar. De
onde saíram aqueles atletas brasileiros? Onde essas pessoas treinaram? Aliás,
onde essas pessoas treinam? Seguramente, não deve ser aqui no país.
E o que será feito dos estádios, dos centros
esportivos e tudo que foi construído para os Jogos? Eu estava aqui pensando em
quantas crianças e adolescentes sequer chegariam perto da marginalidade se
tivessem oportunidade nos esportes de sua preferência. Não, não se trata de favor
aos “pobres”, mas de inteligência e planejamento, pois o investimento nas bases
é que forma os bons atletas, e isso traz muitos ganhos para o país; no entanto,
somos imediatistas e, enquanto essa cultura perversa permanecer, continuaremos
como estamos, ou seja, continuaremos a ver nossos melhores talentos como
turistas no país por ocasião dos grandes eventos e, mesmo assim, se o Brasil vier
a sediá-los, pois que outro motivo esses atletas teriam para permanecer no
país?
Agora que tudo acabou, teremos de voltar à
realidade, e o meu Rio de Janeiro, em vez de ressurgir das cinzas, tornará ao
que era, melhor dizendo, ao que dele fizeram: uma cidade doente, infestada de gordos
ratos de esgoto e lixo por toda parte.