A Bíblia Sagrada
é um fenômeno
editorial. É o livro
mais lido do planeta.
E também o mais
controvertido. Sabemos que todo livro tem um autor material,
alguém que
concebeu as ideias, deu forma a elas
e publicou-as; portanto, mesmo considerando o fenômeno
da intertextualidade, isto é, das diferentes vozes
presentes no texto,
há que se ter
em mente
que a seleção
de conteúdos, o léxico
escolhido, a recorrência a diferentes autores,
enfim, tudo
o que há no texto
resulta de uma participação ativa do autor material.
Assim é com
qualquer livro
desde sua
concepção, no plano
das ideias, até a materialização final, que é a
publicação.
Menos com a Bíblia Sagrada. Desde
a concepção, suas
páginas apresentam problemas
– ou, se preferirmos, tratam de uma matéria que tem
alimentado um sem número de discussões ao longo
do tempo. Teórica
e pretensamente, a Bíblia
foi concebida para ser um código moral para as sociedades terrenas. Estranho
código moral
esse que
condena os filhos de Deus às penas
eternas do Inferno e enseja tantas interpretações
diferentes em
função de interesses
não poucas vezes
escusos.
A Bíblia vem satisfazer a uma
necessidade milenar
do homem: a de saber-se olhado, amado
e cuidado, a de sentir-se protegido por alguém. Afinal,
do mesmo modo
que cada
ser humano,
ao descansar a cabeça
sobre o travesseiro,
necessita ter a certeza
de que há um
presidente governando o país, cada pessoa também precisa ter a certeza de que
há um Deus
governando o mundo, necessita sentir, saber que Deus está
no leme de tudo
e que, se a justiça
do homem é falha,
ao menos a Sua
é perfeita e se estende paternalmente a todos.
Sim. Precisamos ter
alguém a quem
recorrer nos momentos de infortúnio,
sobretudo naquelas horas
em que
nos sentimos injustiçados
por alguém
ou por
uma determinada circunstância.
Não. Isto
não ficará assim,
pois Deus
está vendo. As coisas
vão mudar.
Mesmo sabendo que não devemos
pronunciar o nome
de Deus em
vão, nós
o fazemos com uma frequência inacreditável que
vai desde interjeições
até substantivos;
assim é que
o café da manhã
em casa
é um deus
nos acuda; se o ônibus quebrou, valha-me, Deus!
O filho anda
com más companhias?
Deus me livre! O menino
comeu bem? Benza
Deus! Nossa...
ele fez isso
com você? Deus tá vendo... O quê?
Você bateu no seu
irmão? Olhe que Deus castiga... O marido é chato?
Ó Deus!
Dai-me paciência... O menino já
chegou? Louvado seja Deus!
A vida sem Deus é um vazio existencial. É a falta
de chão.
A carência da humanidade
existe no inconsciente coletivo
das massas, sejam ignorantes
ou não.
A Deus cabe a justiça
que esperamos. A Deus
cabe a separação do joio
e do trigo. A Deus
cabe a escolha dos eleitos que irão repousar eternamente no paraíso.
A Deus também
cabe a escolha dos que
devem sofrer as penas
eternas do Inferno. A Deus, enfim,
cabe o direito sobre
a vida e a morte.
Nada somos sem
Deus. Natural,
então, que
acreditemos em Sua
justiça.
Continua...