terça-feira, 28 de junho de 2011

Aulas de Semântica

Olá, queridos! Este final de semestre está terrível (provas, notas, provas, notas...)!
Quero deixar registrado aqui meu agradecimento ao Carlos pelo comentário sobre o texto “A escova inteligente”...
De fato, a semântica está presente em nosso dia a dia; aliá-la à mídia torna a análise ainda mais interessante.
Em breve, teremos outros textos assim aqui no blog.
Mas vamos lá!
Enquanto não temos as pastas...
Bem, tentei organizar as aulas de semântica postadas até agora; para facilitar, numerei-as e juntei-as em um único arquivo; assim, quem estiver entrando agora no blog poderá salvá-las de uma só vez.
Além disso, a próxima aula já seguirá a numeração normalmente.
Só para lembrar...
Para o bom entendimento das aulas, é preciso recorrer aos corpora (Aurélio, Caldas Aulete e Houaiss) já postados aqui nas páginas anteriores, estamos conversados?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Semântica...

Boa-noite a todos!
Vamos continuar?
Para o terceiro critério proposto, vamos usar um exemplo extraído da pragmática; Watzlawick, Beavin e Jackson (1967), em sua Pragmática da Comunicação Humana, já nos ressaltam a necessidade intrínseca do homem de ser confirmado pelo outro, no processo de interação. Em um tal contexto, o homem, que é um ser, por excelência, social e do discurso, constrói sua identidade pela via da linguagem, que o instaura em sua condição de ser.

Portanto, usar essa mesma via para retirar-lhe as "âncoras" é o mesmo que negá-lo, desconfirmá-lo ou, por outras palavras, atirá-lo à sombra do discurso junto com toda a sua bagagem linguística prévia, sua cultura, sua raça, enfim, relegá-lo à condição de não-ser.

Segundo Houaiss (2001), aquele que nega “recusa-se a admitir” a existência de algo, o que nos mostra que o verbo “negar” (palavra do corpus) implica maior emotividade [e também intensidade!] que “rejeitar” (palavra do corpus), porque, para rejeitar, é preciso primeiro admitir a existência daquilo que se está rejeitando, o que não acontece quando se nega.

Naturalmente, trata-se aqui de um contexto bem específico; sendo assim, em outras situações, a negação implicará necessariamente a existência de algo; por exemplo, quando alguém nega que disse determinadas palavras, é preciso reconhecer primeiro que tais palavras foram ditas. Tudo isto nos vai mostrando que, na tessitura da sinonímia, praticamente não há espaço para o isolamento das palavras.

Próxima aula: sintaxe.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Semântica...

Boa-noite a todos! Eu já estava com saudades!
Vamos lá, queridos?
Continuando com a semântica...
Vejamos as palavras do corpus; para enquadrar-se no segundo critério, temos as palavras “rejeição”, “recusa” e “repulsão”; naturalmente, podemos considerar “repulsão” um termo “mais intenso” que os demais, uma vez que, segundo Houaiss e Caldas Aulete, “repulsão” implica “asco”, “repugnância”, o que não acontece necessariamente com as palavras “rejeição” e “recusa”; sendo assim, a “emotividade” provocada por “repulsão” é muito mais forte. Acrescente-se a isto que, se a repulsa for revelada diante de um mendigo, por exemplo, tal atitude deverá provocar censura moral por parte de quem presencie a cena.

A rejeição, que também é um termo bastante “intenso”, ainda é mais “suave” que “repulsa”, já que podemos demonstrar rejeição por algo, alguém ou até mesmo por uma situação sem que tenhamos nojo; a rejeição poderá ser por alguma coisa que provoque profunda infelicidade, por exemplo.

Já a recusa revestir-se-á de rejeição ou até mesmo de repulsa, dependendo do modo como seja feita, pois há várias maneiras de manifestar recusa; assim, um convite pode ser recusado com delicadeza, grosseria ou asco. O fato é que as três palavras em questão, por sua própria definição, não podem ser totalmente neutras, a não ser quando descontextualizadas ou em “estado de dicionário” (CITELLI, 1986). Convenhamos que, por se tratarem de signos, ao se contextualizarem, transitarão ideologias, crenças e efeitos variados no interlocutor (CITELLI, 1986), de modo que fatores como “emotividade”, “censura” e “aprovação” passem a integrar o mesmo campo associativo.

Próxima aula, sintaxe.

sábado, 18 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Semântica...

Boa-noite a todos...
Estou vendo que há novos seguidores...
Agradeço a todos vocês a presença neste blog...
Bem, vamos continuar?
Postei anteontem um material de consulta para as próximas aulas de semântica; refiro-me ao corpus que utilizei para as análises que fiz em um dos meus artigos.
Vamos, então, às análises!

As duas primeiras palavras escolhidas (“profissional” e “economista”) atendem bem ao primeiro critério proposto por Collinson, já que “profissional” é mais geral que “economista”. Ocorre que Collinson propõe critérios para explicar as diferenças mais comuns entre sinônimos; desse modo, o autor parte do pressuposto de que as palavras susceptíveis à aplicação do referido critério são sinônimas, fato que não é possível de acontecer, pois, na verdade, o que vislumbramos aqui é o fenômeno da hiperonímia, senão vejamos: dizer que um termo é mais geral que o outro é o mesmo que dizer que o mais geral contém o mais específico, ou seja, trata-se da relação hiperônimo/hipônimo.

É de se notar que, se todo economista é um profissional, nem todo profissional é um economista; sendo assim, podemos afirmar que “economista” é sinônimo de “profissional”, mas o inverso só será verdadeiro em determinados contextos, já que o hiperônimo “profissional” contém diversos hipônimos e “economista” é apenas um deles. A sinonímia aqui parece configurar um fenômeno de “mão única”, o que acaba por descaracterizá-la, já que pressupõe um caminho de “mão dupla”.

O segundo, terceiro e quarto critérios propostos por Collinson estão associados entre si e podem ser sintetizados em um só, senão vejamos: quando dizemos que um termo é mais intenso que outro, o que significa ser “mais intenso”, senão portador de uma carga maior de emotividade? E mais: se um determinado termo provoca comoção em alguém, isto só se dá porque o termo em questão não é neutro e, dependendo da situação, o grau de comoção provocado pode importar aprovação ou censura moral.

Amanhã, sintaxe...
No sábado, A ESCOVA INTELIGENTE...

terça-feira, 14 de junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Vivere

Boa-noite, pessoal!
Inúmeros compromissos impediram-me de estar aqui ontem...
Alguns avisos...
Daremos uma pequena pausa nas aulas de semântica; será uma pausa bem pequena...
Na próxima segunda ou, no máximo, terça, começarei a postar aulas inéditas de análise sintática; começaremos do zero mesmo...
E aguardo a presença de vocês, é claro!
Bem, por hoje, vou postar um poema para o Cantinho do Estudante...
Descobri que tenho mais um aluno poeta... Não é o máximo?
O poema de hoje se chama Vivere e é fruto do talento do Vinícius, aluno do Propedêutico...
Bem, vamos a ele:
VIVERE
Dá-me o teu amor
E receba-me por inteiro.
Minha existência
Só em ti consegue sentido.
Mas quem tu és?
Quem sou eu?
Tu és a perfeição do amor.
A perfeição do amor tu és.
A sublimação do desejo sou eu.
Se me queres, toma!
Antes que te entregues a mim
Te possuo.
Não permitas que de ti me aparte
A vida não vale a pena
Sem teu amor.

Autor: Vinícius Nascimento

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Sinonímia em Lyons – Continuação

Boa-noite a todos...

Vamos continuar?

Convém observar que Lyons, ao expor sua teoria, brinda-nos com um número muito pequeno de exemplos e, no que se refere à sinonímia como hiponímia simétrica, não nos fornece exemplificação.

Curiosamente, ao falar da sinonímia como um caso especial de hiponímia, oferece-nos como exemplo as palavras “primogênito” e “caçula”, que não são sinônimas, pois “primogênito” é o filho mais velho, ao passo que “caçula” é o mais novo; no entanto, ambas as palavras são hipônimos do hiperônimo “filho” e, como tal, são “filhos” já que existe uma correspondência entre os traços semânticos de hiperônimos e hipônimos; sob este aspecto podemos até considerá-las sinônimas, pois “primogênito” = “filho” e “caçula” = “filho” (mas uma não se pode substituir pela outra já que os significados são opostos e, na verdade, a relação entre ambas é de antonímia).

Desse modo, temos que, segundo a definição matemática de Lyons (1979), “se x é um hipônimo de y e se y é também um hipônimo de x – isto é, se a relação é bilateral ou simétrica –, então x e y são sinônimos”; se considerarmos x = primogênito ou caçula e y = filho, teremos que, se x (primogênito ou caçula) é hipônimo de y (filho) e se y (filho) é hipônimo de x (primogênito ou caçula), então x e y são sinônimos, ou seja, “primogênito ou caçula” são sinônimos de “filho”, o que não é verdadeiro, já que todo primogênito e todo caçula são filhos mas nem todo filho é primogênito ou caçula; o que dizer, por exemplo, do filho “do meio” e do filho “adotado” e do filho “emprestado” e do filho “do coração”?

Note-se que dizer que x é hipônimo de y é o mesmo que dizer que y é hiperônimo de x; sendo assim, ambos não podem ser sinônimos. Suponhamos agora, em lugar dos sintagmas “primogênito” e “caçula”, respectivamente, os sintagmas “filho mais velho” e “filho mais novo” (modificados sintagmaticamente); então teremos que, se x (filho mais velho ou filho mais novo) é hipônimo de y (filho) e se y (filho) é hipônimo de x (filho mais velho ou filho mais novo), então x e y são sinônimos, ou seja, “filho mais velho ou filho mais novo” são sinônimos de “filho”; realmente são, mas um não se substitui pelo outro; além disso, se uma palavra é  hipônima de  outra, isto significa dizer que uma delas é um hiperônimo e, como tal, ambas não podem ser sinônimas, já que uma contém a outra, a não ser em contextos bem específicos.

Portanto, não podemos pensar em equivalência matemática para a língua, já que esta não é uma ciência exata.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A Sinonímia em Lyons

Boa-noite, queridos! Vamos continuar?

E para aquecer os motores...

A Sinonímia em Lyons

Lyons (1979), ao analisar o fenômeno da sinonímia, propõe, entre outras considerações relevantes, uma análise relacionada aos conceitos de hiperonímia e hiponímia; assim, o autor considera a sinonímia como uma “hiponímia simétrica”.

Nas palavras do autor (1979, p. 483-484):

Embora um termo hiperônimo não implique, em geral, o seu hipônimo, ocorre freqüentemente que o contexto situacional ou a modificação sintagmática do termo hiperônimo o determinará no sentido de um de seus hipônimos. Essa é a origem da sinonímia dependente do contexto (...). E isso sugere igualmente a possibilidade  de definir a relação de sinonímia como “hiponímia simétrica”: se x é um hipônimo de y e se y é também um hipônimo de x – isto é, se a relação é bilateral ou simétrica -, então x e y são sinônimos. (...) A sinonímia, como um caso especial de hiponímia, tem, pois, a propriedade adicional de ser uma relação simétrica: estabelece-se entre a e b e entre b e a. Por motivos puramente formais ela também pode ser definida como reflexiva: (...) toda unidade lexical que se substitui a si mesma é sinônima de si mesma, no mesmo contexto. A sinonímia é, portanto, uma relação de equivalência no sentido matemático do termo.

Vamos considerar ainda as definições abaixo:

Hiperônimo (Dubois) – sin. superordenado. É o termo cuja significação inclui o sentido (ou os sentidos) de um ou de diversos outros termos chamados hipônimos. O sentido do nome da parte de um todo é o hipônimo do sentido do todo que é o seu hiperônimo. Assim, animal é o hiperônimo de cão, gato, burro,etc.

Hipônimo (Dubois) – é o sentido do nome da parte de um todo.

Hiperônimo (Houaiss) - adjetivo e substantivo masculino
Rubrica: lingüística.
relativo a ou vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro (p.ex., assento é hiperônimo de cadeira, de poltrona   etc.;      animal é hiperônimo de leão; flor é
hiperônimo de malmequer, de rosa etc.);
superordenado
Obs.: p. opos. a hipônimo

Hipônimo (Houaiss) - adjetivo e substantivo masculino
Rubrica: lingüística.
diz-se de ou vocábulo ou sintagma de sentido mais específico em relação ao de um outro mais geral, em cuja classe está contido (p.ex., poltrona é hipônimo de assento; leão é hipônimo de animal)
Obs.: p.opos. a hiperônimo

Hiperônimo (Aurélio) - [De hiper- + -ônimo.]
S. m. E. Ling. 
1. Numa relação de hiperonímia, o termo cujo significado é mais genérico. 
[Cf. hipônimo.]

Hipônimo (Aurélio) - [De hip(o)-1 + -ônimo.]
S. m. E. Ling.
1. Numa relação de hiponímia, o termo cujo significado é menos genérico.
[Cf. hiperônimo.]


Podemos perceber, com base nas definições acima, que o hiperônimo é um indicador de classes e o hipônimo é um dos membros da classe designada pelo hiperônimo. Por exemplo, “fruta” é um hiperônimo, ao passo que “manga”, “uva”, “banana” etc. são hipônimos.

Vamos tomar o seguinte conjunto de vocábulos:

ANIMAL :  + Animado / - Humano               

GATO :  + Animado / - Humano / + Felino / +Vertebrado / + Doméstico / etc.

ONÇA :  + Animado / - Humano / + Felino / +Vertebrado / - Doméstico / etc.                      

BARATA : + Animado / - Humano / - Vertebrado / etc.                                                                      

É de se notar que os vocábulos "gato", "onça" e "barata" são hipônimos de "animal", que, por seu turno, tem presença do traço "animado" e ausência do traço "humano"; assim, temos que: ANIMAL = + Animado e - Humano, entre outros traços.

Convém observar que os traços especificados do hiperônimo "animal" ("+Animado" e "-Humano") são os traços comuns aos hipônimos "gato", "onça" e "barata"; os demais traços do hiperônimo são não-especificados ou, por outras palavras, não são dotados dos sinais "+" ou "-".

Como podemos ver, o hiperônimo é mais abrangente do que o hipônimo, já que se trata de uma relação do tipo contém / está contido; mesmo assim, se fizermos uma modificação sintagmática no termo hiperônimo, conforme nos propõe Lyons (1979), é possível determiná-lo no sentido de um de seus hipônimos.

Desse modo, temos que o hiperônimo “profissional” e o hipônimo “advogado” poderão tornar-se sinônimos se acrescentarmos o sintagma preposicionado “do direito” ao hiperônimo “profissional”; assim, “profissional do direito” equivale a “advogado”, ou seja, são sinônimos.

Todavia, esse procedimento não é uma regra e, como tal, não pode ser generalizado nem mesmo para um determinado hiperônimo, senão vejamos: como modificar o hiperônimo “profissional” para torná-lo sinônimo dos hipônimos “lixeiro”, “sapateiro”, “engenheiro” e “ascensorista”, por exemplo? Diremos, respectivamente, “profissional do lixo”, “profissional do sapato”, “profissional do engenho” (e aqui o sentido será alterado a ponto de mudar a profissão; já “profissional de engenharia” seria mais aceitável, embora não seja comum) e “profissional do elevador”?

Continua...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Continuação da aula de Semântica – 5...

Boa-noite a todos! Acabo de ler um comentário de uma ex-aluna, a Ivye, postado neste blog e devo admitir que meus alunos são muito generosos comigo...

E paramos por aqui, senão eles ficam metidos que só...

Recebo o comentário com muita alegria, sobretudo vindo de uma pessoa tão bacana como a Ivye; bem, só me resta agradecer...

Antes de continuarmos, postei há pouco mais um livro de minha autoria para quem quiser ler; quanto às aulas de sintaxe, começarão na próxima semana, na segunda ou na terça; quanto às aulas de semântica, elas continuam sempre, pois nada fazemos sem esse grande terreno movediço que é a semântica; o motivo? Ela está na base de tudo, basta pensar que vivemos no mundo dos significados e dos contextos; nesse ponto, vale ressaltar o campo de estudo do qual a semântica não se separa: a pragmática.

Mas vamos com calma...

Continuando...

9) Um dos sinônimos pertence à linguagem infantil.

Com frequência, uma única palavra no vocabulário infantil tem mais de um sentido em seu correspondente adulto; assim, temos que papá pode significar papai e alimento, dentre outras palavras.

Ullmann (1964) nos fala que o meio mais eficaz para delimitar os sinônimos consiste no “teste de substituição” proposto por Macaulay; ocorre que, com frequência, tais substituições necessitam de algum tipo de adaptação e, ainda assim, dependendo do contexto, um termo não pode ser substituído por outro.

Tomemos os pares casa / lar e dispensar / prescindir; dificilmente, uma pessoa dirá ao sair da escola: “vou para o meu lar” (dirá, sim, “vou para minha casa”); já no segundo par, haverá uma adaptação exigida pela regência dos verbos em questão, pois dizemos “dispenso a sua ajuda”, mas “prescindo da sua ajuda”.

Naturalmente, podemos dizer que uma planície é “vasta” ou “larga”, mas não dizemos da velha calça que ela está “vasta” e precisa ser apertada; embora saibamos que uma blusa “seca” é o mesmo que uma “enxuta”, pois, nesse caso, significa que não está molhada, não podemos dizer o mesmo de uma carta, afinal, uma carta “seca” não é o mesmo que uma “enxuta”: enquanto a primeira é desprovida de qualquer emotividade, a segunda é concisa e objetiva.

Segundo o autor, também podemos delimitar os sinônimos através de seus opostos, ou seja, os antônimos. Para Ullmann, o adjetivo “fundo” será sinônimo dos adjetivos “intenso” e “profundo” em “funda simpatia” (pois também podemos dizer “profunda simpatia” e “intensa simpatia”), em que o seu antônimo seria o adjetivo “superficial”, mas não em “água profunda”, em que o seu antônimo seria “rasa”, “não profunda” (não podemos dizer “água superficial”).

É certo que não podemos dizer “simpatia rasa”, mas “simpatia superficial” também é estranho, pois não me parece que o substantivo “simpatia”  esteja sujeito a gradações:  ou existe  simpatia  ou  não,  ou simpatizamos com alguém ou não simpatizamos. Por outro lado, há que se ter em mente qual o sentido de “simpatia” que está sendo utilizado, pois, se dissermos “conheço uma simpatia excelente para bronquite”, nem mesmo o recurso ao antônimo terá qualquer validade, já que não se diz “conheço uma funda simpatia para bronquite” e menos ainda “uma simpatia rasa ou superficial para bronquite”.

Continuamos na próxima...

O discurso paradoxal de Vieira no sermão "Pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda"

http://www.mediafire.com/?ihhvkik6bka2x32

Nomes de profissões: uma oposição sufixal (-eiro x -ista)

http://www.mediafire.com/?jua2b3fdehb7v33

domingo, 5 de junho de 2011

Continuação da aula de Semântica - 4

Boa-noite a todos! Sejam muito bem-vindos aqui neste blog!

Vamos continuar?

5) Um termo é mais profissional que outro.

Usamos os termos ditos “profissionais” de acordo com o tipo de leitor / ouvinte; assim ocorre, por exemplo, com “cefaleia” e “dor de cabeça”; desse modo, um médico conversando com outro dirá “cefaleia” para designar um dos sintomas do paciente; já para o paciente, o termo mais apropriado será “dor de cabeça”.

6) Um termo é mais literário que outro.

Podemos citar aqui o substantivo “passamento” e a lexia complexa “a indesejada das gentes” (eufemismo) em oposição a “morte”, por exemplo; assim também, termos como “nau” e “navio”, dentre outros.

7) Um termo é mais coloquial que outro.

As gírias são um exemplo claro; assim, “estou um bagaço” e “estou cansado”. Comparemos os quatro substantivos que seguem: “semblante”, “rosto / face” e “cara”, respectivamente, formal, neutros e coloquial; não obstante serem considerados sinônimos, esses substantivos têm usos muito diferentes, senão vejamos: um sujeito que ameaça outro não diz “vou dar um soco no teu semblante” (mas “na tua cara”); lavamos o rosto e não a face e dizemos que um bebê tem a face rosada; do mesmo modo, um adulto pode ter um semblante melancólico e o rosto pálido, dentre outros usos. Acrescente-se que o binômio “rosto – face” enquadra-se ainda na primeira diferença descrita, já que a face fica no rosto.

8) Um termo é mais local ou dialetal que outro.

Há muitos exemplos para esta diferença; assim, dizemos, no Rio, por exemplo, “biscoito”, ao passo que em São Paulo usa-se o substantivo “bolacha”; do mesmo modo, dizemos “sinal”, no Rio, e “farol”, em São Paulo. O substantivo “macaxeira”, em Recife, é “aipim”, no Rio; o mesmo se dá entre os diferentes países que falam português: dizemos “elefanta”, no Brasil, e “aliá”, em alguns países do continente africano. Até dentro do mesmo Estado, há diferenças; assim, usamos no Rio (Capital) o substantivo “janela” em oposição a “jinela” em alguns municípios do interior.

Continuamos na próxima...


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Continuação da aula de Semântica – 3...

Boa-noite a todos... Agradeço a vocês pela presença aqui neste blog...

Para a próxima semana, teremos mais duas seções: CrônicasA outra face da crítica; os textos estão saindo do forno...

E, conforme expliquei, em breve os textos estarão nas respectivas pastas. 

Também já estão prontas aulas inéditas sobre os fundamentos da análise sintática.

E vamos em frente, que as nossas aulas de Semântica ainda não terminaram; o que postei até o momento foi publicado em forma de artigo (depois darei a referência completa).

Bem, vamos lá:


Conforme sabemos, não existem sinônimos perfeitos. O princípio de economia linguística nos fala que nenhuma palavra da língua existe à toa; logo, não pode haver duas palavras de mesmo sentido, já que tal fato violaria o princípio, pois se isso acontecesse, pelo menos uma, das duas palavras, estaria "a mais", "sobrando". Além disso, há que se considerar o contexto: para que duas palavras tenham o mesmo sentido (definição tradicional de sinonímia), isto deverá ocorrer em qualquer contexto para que se possa empregar uma pela outra, o que, de um modo geral, não ocorre.

Vamos, então, comentar os exemplos arrolados no esquema proposto por W. E. Collinson:

2) Um termo é mais intenso que outro.

Vejamos os verbos “repudiar” e “recusar”; no caso do primeiro, temos, de fato, uma carga semântica mais forte, já que implica uma rejeição, o que necessariamente não ocorre com o segundo, pois podemos recusar delicadamente um convite, por exemplo, não por rejeição, mas por absoluta impossibilidade de atendê-lo.

“Assassinar” também é mais intenso do que “matar”; o impacto de uma notícia como “O executivo X foi assassinado ontem de madrugada.” é bem maior que “O executivo X foi encontrado morto.”, por exemplo, até porque, o fato de estar morto não quer dizer necessariamente que foi assassinado. Acrescentem-se aqui os diferentes usos desses dois verbos em contextos variados; se entra uma barata voadora em nossa casa, não gritamos “assassina a barata!”, mas “mata, mata!”.

3) Um termo é mais emotivo que outro.

Um exemplo claro são os eufemismos, que, ressalte-se, enquadram-se também no segundo critério proposto por Collinson. Não é por acaso que, em determinadas situações, buscamos utilizar as “melhores” palavras para não ferir a susceptibilidade alheia. O substantivo “câncer”, por exemplo, é portador de forte carga emocional, de modo que é comum substituí-lo por “doença ruim” ou “CA” (pronuncia-se cada fonema isoladamente, sem configurar a sílaba).

4) Um termo pode implicar aprovação ou censura moral enquanto o outro é neutro.

Trata-se, na verdade, de um outro modo para definir o eufemismo, já que sua característica principal é justamente a substituição de um termo “pesado” e, dependendo do contexto, censurável,  por um que seja “neutro”; assim, podemos citar como exemplo o sintagma “capitalismo selvagem”, susceptível à desaprovação, e um substituto “neutro”, como, por exemplo, o sintagma “livre empresa”. Da mesma maneira, um adjetivo como “leproso”, que certamente provocaria uma censura por parte do ouvinte, deveria ser substituído por “hanseniano”, que é mais “neutro”.

Continuamos na próxima...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Continuação da aula de Semântica – 2...

Olá, pessoal!

Vamos continuar?

1) Um termo é mais geral que outro.

Vamos exemplificar primeiramente com os substantivos  “tarefa” e “função” e com os verbos “executar” e “desempenhar”. Comparem-se as frases abaixo:

a) "João executa suas tarefas com rapidez" ou "João desempenha suas tarefas com rapidez"?

b) "Pedro executa suas funções com eficiência" ou "Pedro desempenha suas funções com eficiência"?

Na verdade, João executa tarefas e Pedro desempenha funções.

Convém notar que os vocábulos "executar" e "tarefas" possuem, ambos, presença do traço "Pontual"; assim, temos que "executar" = "+ Pontual" ou "+ P" e "tarefas" também igual a "+ Pontual" ou "+ P".

Por outro lado, os vocábulos "desempenhar" e "funções" possuem, ambos, presença do traço "Durativo"; assim, temos que "desempenhar" = "+ Durativo" ou "+ D" e "funções" também igual a "+ Durativo" ou "+ D".

Para que possamos entender o que significam esses dois traços (Pontual e Durativo), vamos tomar como exemplo o verbo "caçar" e criar um contexto; desse modo, posso dizer "ontem cacei na floresta" e "eu caçava naquela floresta"; a primeira frase mostra-nos que o ato de caçar ocorreu uma única vez, em tempo pretérito, e já foi encerrado, ou seja, eu cacei ontem na floresta, mas isto aconteceu ontem, pois hoje eu vou pescar.

Já a segunda frase mostra-nos o ato de caçar como algo que ocorreu muitas vezes em um tempo pretérito e, por esse motivo mesmo, pode-se afirmar que, em tal contexto, o ato de caçar reveste-se de uma certa duração no tempo, de uma certa frequência, fato esse que lhe outorga a presença do traço "Durativo", ao contrário do item anterior, em que o traço presente é o "Pontual", justamente por não estar o ato de caçar revestido de uma certa duração no tempo.

Se tomarmos os vocábulos "tarefa" e "função", observaremos que dentro de uma mesma função podem ser executadas várias tarefas, o que indica ser o vocábulo "função" de uma amplitude maior que o vocábulo "tarefa". Com efeito, mesmo que a tarefa a ser executada dure um dia inteiro, ao seu término, outra tarefa terá lugar, sem que, com isso, a função seja modificada; na verdade, a função permanece a mesma, daí a diferença na atribuição dos traços, fato esse que ocorre, igualmente, com os verbos "executar" e "desempenhar", o que justifica a combinação apropriada de traços: tarefas são executadas e funções, desempenhadas.

Vejamos agora os verbos “ter” e “possuir” nas frases abaixo:

a)        Maria possui olhos verdes. (Possuir = "+ Comercializável")

b)        Maria tem olhos verdes. (Ter = “Comercializável”).

Note-se que o verbo "ter" tem o traço "comercializável" não-especificado, o que significa dizer que o referido traço pode estar presente ou ausente, dependendo do vocábulo em questão; já o verbo "possuir" tem presença do traço "comercializável", o que nos leva a concluir que a frase "Maria possui olhos verdes" comporta uma inadequação ou impropriedade vocabular, já que os olhos não são passíveis de comercialização.

Há que se considerar que o verbo "ter" é hiperônimo do verbo "possuir", logo, posso dizer que "tenho uma caneta esferográfica" ou "possuo uma caneta esferográfica", mas "tenho cabelos negros" e não "possuo cabelos negros".

Estamos batendo às portas do universo movediço da Semântica Estruturalista: sejam, pois, muito bem-vindos...

Continuamos na próxima...