quarta-feira, 1 de junho de 2011

Continuação da aula de Semântica – 2...

Olá, pessoal!

Vamos continuar?

1) Um termo é mais geral que outro.

Vamos exemplificar primeiramente com os substantivos  “tarefa” e “função” e com os verbos “executar” e “desempenhar”. Comparem-se as frases abaixo:

a) "João executa suas tarefas com rapidez" ou "João desempenha suas tarefas com rapidez"?

b) "Pedro executa suas funções com eficiência" ou "Pedro desempenha suas funções com eficiência"?

Na verdade, João executa tarefas e Pedro desempenha funções.

Convém notar que os vocábulos "executar" e "tarefas" possuem, ambos, presença do traço "Pontual"; assim, temos que "executar" = "+ Pontual" ou "+ P" e "tarefas" também igual a "+ Pontual" ou "+ P".

Por outro lado, os vocábulos "desempenhar" e "funções" possuem, ambos, presença do traço "Durativo"; assim, temos que "desempenhar" = "+ Durativo" ou "+ D" e "funções" também igual a "+ Durativo" ou "+ D".

Para que possamos entender o que significam esses dois traços (Pontual e Durativo), vamos tomar como exemplo o verbo "caçar" e criar um contexto; desse modo, posso dizer "ontem cacei na floresta" e "eu caçava naquela floresta"; a primeira frase mostra-nos que o ato de caçar ocorreu uma única vez, em tempo pretérito, e já foi encerrado, ou seja, eu cacei ontem na floresta, mas isto aconteceu ontem, pois hoje eu vou pescar.

Já a segunda frase mostra-nos o ato de caçar como algo que ocorreu muitas vezes em um tempo pretérito e, por esse motivo mesmo, pode-se afirmar que, em tal contexto, o ato de caçar reveste-se de uma certa duração no tempo, de uma certa frequência, fato esse que lhe outorga a presença do traço "Durativo", ao contrário do item anterior, em que o traço presente é o "Pontual", justamente por não estar o ato de caçar revestido de uma certa duração no tempo.

Se tomarmos os vocábulos "tarefa" e "função", observaremos que dentro de uma mesma função podem ser executadas várias tarefas, o que indica ser o vocábulo "função" de uma amplitude maior que o vocábulo "tarefa". Com efeito, mesmo que a tarefa a ser executada dure um dia inteiro, ao seu término, outra tarefa terá lugar, sem que, com isso, a função seja modificada; na verdade, a função permanece a mesma, daí a diferença na atribuição dos traços, fato esse que ocorre, igualmente, com os verbos "executar" e "desempenhar", o que justifica a combinação apropriada de traços: tarefas são executadas e funções, desempenhadas.

Vejamos agora os verbos “ter” e “possuir” nas frases abaixo:

a)        Maria possui olhos verdes. (Possuir = "+ Comercializável")

b)        Maria tem olhos verdes. (Ter = “Comercializável”).

Note-se que o verbo "ter" tem o traço "comercializável" não-especificado, o que significa dizer que o referido traço pode estar presente ou ausente, dependendo do vocábulo em questão; já o verbo "possuir" tem presença do traço "comercializável", o que nos leva a concluir que a frase "Maria possui olhos verdes" comporta uma inadequação ou impropriedade vocabular, já que os olhos não são passíveis de comercialização.

Há que se considerar que o verbo "ter" é hiperônimo do verbo "possuir", logo, posso dizer que "tenho uma caneta esferográfica" ou "possuo uma caneta esferográfica", mas "tenho cabelos negros" e não "possuo cabelos negros".

Estamos batendo às portas do universo movediço da Semântica Estruturalista: sejam, pois, muito bem-vindos...

Continuamos na próxima...

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