domingo, 30 de junho de 2019

Tumores da Alma



Toda religião tem seu valor. Não importa a sua, mas o que você se torna a partir dela. Lembremo-nos de que o fundamento de todas – Deus – é o mesmo; aliás, Deus é uma palavra tão especial que torna intransitivo o verbo de “ligação”: basta dizer Deus é. Não é necessário mais do que isso. O mesmo não ocorre com Jesus, que necessita dos complementos, visto que não é unanimidade e nem todos creem nele; alguns, inclusive, ainda esperam pela vinda do Eleito de Deus.

Se você não professa nenhuma religião, isso também não importa; você pode ser bom com ou sem uma religião; ainda que você não frequente nenhum templo religioso, nada disso importa. Cristo pregou nas estradas poeirentas de seu tempo, nos montes, na cruz e em tantos outros lugares descobertos, que devemos nos perguntar se o que importa mesmo é estar fechado em algum templo religioso. Mas nada disso importa.

Vejamos: o que você faz com o tempo de que dispõe? O que sua religião diz sobre isso? Conforme expliquei acima, importa o que você se torna a partir da sua religião, de modo que é importante se perguntar o que você é e quem você quer se tornar.

Como você trata as pessoas que moram com você? É do tipo que só trata bem os de fora? Ou diz a si mesmo que “seu jeito de falar” é aquele para ocultar o próprio comodismo, a preguiça, o egoísmo, o orgulho enfim?

Você se lembra de que os seus toleram suas mazelas e merecem, portanto, que você tolere as deles com amor e bondade?

Como você trata seus pais ou aqueles que estão com você desde a mais tenra infância? Você é do tipo que esquece tudo o que eles fizeram por você e os explora na idade madura, afinal eles moram “de favor” na sua casa? Você tem o hábito de falar mal das pessoas? Você julga as atitudes do seu próximo e se esquece de que ele, na maioria das vezes, é seu espelho de aumento?

Você é do tipo que fica no celular quando seus colegas estão apresentando alguma comunicação e gostariam de um pouco de respeito e atenção? Você se põe no lugar deles? O que você tem para ver é tão urgente que não pode esperar uma apresentação terminar? E depois ainda bate palmas sem ter ouvido sequer uma só palavra?

Você é do tipo que não recolhe as fezes do seu cão, despreocupado dos focos de Leishmaniose que está deixando pelas ruas para os animais que vivem ao léu? Você usa seus animais para trabalhar no seu lugar, suga suas forças até o último suor e os abandona quando estão idosos?

Você é do tipo que valoriza e deseja tudo aquilo que não tem e inveja os que obtêm merecidas conquistas às expensas dos próprios méritos? Afronta pessoas na rua, nos bares, no trânsito por não ter um mínimo de paciência? Quer tudo a tempo e a hora, mas não se dispõe a retribuir? Sabe pedir perdão quando comete erros? Procura reparar erros cometidos em qualquer tempo?

Você é afável e bondoso com todos aqueles que buscam seu amparo e carinho independentemente de serem pessoas ou animais? Avalia as pessoas pela cor ou classe social sem pensar que o caráter não se “mede” por essa escala?

Esses são alguns dos pequenos tumores da alma que, se não extirpados pelo bisturi da reforma moral, tendem a crescer e crescer cada vez mais.

E se sua religião não estimula ativamente sua reforma moral, está na hora de repensar.


segunda-feira, 24 de junho de 2019

A justiça divina


Admitir a existência do demônio é uma heresia contra a justiça divina, que a perseverança deste ser no mal atesta a incompetência do Criador da vida em relação à sua criação; por outro lado, dizer que o homem introduziu o “pecado” no mundo é ainda pior, pois Deus criou o homem, o que nos leva a pensar que Ele facilitou – ou promoveu – a presença do mal no mundo. Então, Deus estaria contra si mesmo? Apesar de tudo, parece haver um acordo tácito entre os homens que legitima uma tal interpretação das Sagradas Escrituras. Mesmo que ninguém consiga explicar a maldade do Pai por permitir que um filho seu arda eternamente no Inferno, mesmo que este simples fato descaracterize o ensinamento do Cristo a respeito do perdão, enfim, mesmo que, à luz da razão, os fatos que nos rodeiam questionem todo o tempo a justiça de Deus, as pessoas aceitam. Simples assim. Frequentam os ofícios religiosos normalmente, seguem em frente, continuam vivendo.

Como explicar a miséria extrema de uns em face da abundância de outros? E as doenças? Por que alguns são sadios fisicamente enquanto outros tombam nas camas de hospitais atirados à própria sorte sem nem mesmo uma palavra de conforto? E os acidentes que não matam, mas paralisam e ceifam a alegria de muitos? Por que algumas crianças nascem surdas, mudas, doentes, sem horizonte e sem esperança? Onde está a justiça de Deus? Os filhos pagam pelos pecados dos pais? Mas isso não é justiça!

O fato é que há muita coisa sem explicação. Não adianta esperar sentado por um céu que nunca virá. O perdão é estéril se não vier acompanhado da reparação dos erros cometidos! O céu e o inferno estão dentro de cada um, não fora. Mas cada um, cedo ou tarde, paga o preço da própria incúria e alienação.

Ninguém questiona a veracidade dos ensinamentos contidos nas Sagradas Escrituras.  Nem as diferentes interpretações.  E os que tentam pensar são marginalizados. Para o homem ocidental, a Bíblia é. E basta que Ela seja. Por saber disso, alguns a tornaram sua maior arma.


terça-feira, 18 de junho de 2019

Sobre o Demônio


Sabemos que a Bíblia Sagrada é o pilar das religiões. Mesmo assim, seus escritos são interpretados de formas diversas à luz das diferentes religiões. A figura do demônio, acima de tudo, representa o mal. O problema mais uma vez aqui é de lógica, de raciocínio. O demônio seria um anjo que se rebelou contra Deus e foi expulso do Paraíso, assim como Adão e Eva. Até hoje tais figuras são execradas pela opinião pública, o que prova ser o perdão divino bastante seletivo. Há muitas perguntas sem resposta. Pelo visto, parece que Jesus fracassou na missão de converter satanás e ensiná-lo o caminho do bem, se é que houve tal missão; de qualquer modo, se houve, fracassou; tendo havido e fracassado, como foi Deus quem criou o homem, deve ter superado a si mesmo por ter criado alguém tão resistente ao bem; se não houve a missão de convertê-lo, então ele sofreu descaso por parte de Nosso Senhor, o que prova que Ele ama mais a uns do que a outros e, portanto, tem suas preferências, o que não condiz, absolutamente, com quem prega a justiça.

Em algumas “religiões”, o demônio chega a ter mais poder do que Deus; aliás, ali, tudo o que acontece de ruim na vida do homem é culpa do demônio. Se alguém não consegue emprego, não se faz a mais leve menção a fatores tais como comodismo, falta de preparo, dentre outros. Não, a culpa é do demônio. Trata-se de uma maneira prática e muito confortável de induzir as pessoas a nunca se responsabilizarem por nada do que lhes acontece e muito menos por seus atos, que é o demônio que faz a pessoa ter uma vida “destruída”; basta assistir a alguns programas de televisão para comprovar o que digo: quem vai para está com a vida destruída – pelo demônio, naturalmente – e frequentar os templos é o único modo de conquistar tudo o que não se teve; é de se notar que não se fala em valores morais ali, até porque, essas religiões baseiam-se na Teoria da Prosperidade; assim, todos os que frequentam o templo – ao menos os que dão depoimentos na televisão – conseguem comprar casas, carros, abrem empresas, prosperam, enfim, trata-se de “religiões” perfeitas cujo Deus chama-se Capital. Como todos querem ficar milionários sem esforço e vencer o demônio, o número de fiéis dessas “religiões” cresce a cada dia e o demônio ainda está muito longe de se aposentar.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

O Inferno


O conceito de Inferno é inconcebível com a imagem de um Pai justo, afinal, se esse mesmo Pai enviou seu filho para nossalvar” e se esse Filho pregou – e exemplificou com atosque devíamos perdoar setenta vezes sete vezes, então qual o sentido de existir um lugar em que um filho fique queimando por toda a eternidade? Isto não é o mesmo que negar-lhe o perdão? Se devemos negar-lhe o perdão, então por que o Cristo mandou que perdoássemos setenta vezes sete vezes? Será que Ele não estava falando sério? Aceitar que Jesus estivesse “jogando conversa fora” é ainda pior do que aceitar qualquer dogma que nos seja imposto por qualquer religião.

Vejamos, agora, o fato de ter o Pai enviado o Filho parasalvar” a humanidade. Pergunto: salvar de quê? Dos pecados? Meu raciocínio recusa-se a aceitar que seja assim tão fácil. Afinal, muito antes de Jesus estar entre nós, a humanidade cometia ‘pecados’ verdadeiramente abomináveis. Nesse caso, somos forçados a aceitar que Jesus veio, “salvou-nos” e “zerou” tudo? Ficamos sempecado’? Terá sido por isso que viemos a cometer outros piores? Sim, porque, se ficamos “zerados” em um passe de mágica, nada mais natural e esperado que viéssemos a cometer erros ainda mais atrozes, afinal, “zerartudo é o mesmo que absolver o condenado sem ministrar-lhe o conforto e a sabedoria das Leis Morais, que o Cristo veio pregar – e exemplificar – entre nós.

Se o “pecadornão aprende a evoluir moralmente, isto é, se não aprende a tornar-se uma pessoa decente para poder reparar dignamente os seus erros, então qual o mérito que possui para herdar o Reino de Deus? Herdará tudo sem fazer nenhum esforço, então?  

Jesus não deixou nada escrito. Fizeram-no por Ele e em nome dEle; entretanto, os conceitos veiculados por esses dogmas são tão absurdos que não resistem a uma análise mais acurada, isto é, à luz do raciocínioque é muito difícil crer que representem fielmente tudo o que Jesus disse quando esteve entre nós. Ao menos os atos de Jesus contradizem a letra dos dogmas e, como a própria Bíblia descreve os atos de Jesus, Ela própria contradiz os seus dogmas. Será isso possível? Sim. Vejamos outras situações que merecem análise; comecemos pela tão controvertida figura do demônio.

Continua...


domingo, 2 de junho de 2019

Sobre a Bíblia II


Felizmente, há limite para tudo. Há muitas perguntas sem resposta. Ou professamos a cega, que nos manipula como se fôssemos meras marionetes, ou começamos a raciocinar e chegamos à conclusão de que alguma coisa está muito errada lá no céu.

É de se notar que até hoje a figura de Judas é alvo de execração pública, o que se pode comprovar no Sábado de Aleluia, quando o apóstolo é malhado e queimado; esse comportamento em relação a Judas decorre diretamente da imagem do apóstolo construída pelo imaginário popular; aliás, o próprio substantivo comumjudas” reveste-se de enorme carga de pejoratividade; normalmente, chamamos de “judaspessoas que consideramos traidoras.

Particularmente nesse ponto, a prepotência do ser humano não tem limites, afinal, sabemos que o próprio Jesus, ao ser crucificado, pediu ao Pai que perdoasse a todos sob a alegação de que eles não sabiam o que estavam fazendo. Se Jesus, que foi o ofendido, perdoou aos algozes, não seria muito mais lógico supor que perdoou também a Judas? E, se assim foi, por que há pessoas que não o perdoam? São maiores do que Jesus?

Não bastasse isso, somos obrigados a crer em histórias que fogem à lógica e ao raciocínio. Se é preciso viver a , então que esta seja raciocinada e não nos passe um atestado de parvos.