segunda-feira, 24 de junho de 2019

A justiça divina


Admitir a existência do demônio é uma heresia contra a justiça divina, que a perseverança deste ser no mal atesta a incompetência do Criador da vida em relação à sua criação; por outro lado, dizer que o homem introduziu o “pecado” no mundo é ainda pior, pois Deus criou o homem, o que nos leva a pensar que Ele facilitou – ou promoveu – a presença do mal no mundo. Então, Deus estaria contra si mesmo? Apesar de tudo, parece haver um acordo tácito entre os homens que legitima uma tal interpretação das Sagradas Escrituras. Mesmo que ninguém consiga explicar a maldade do Pai por permitir que um filho seu arda eternamente no Inferno, mesmo que este simples fato descaracterize o ensinamento do Cristo a respeito do perdão, enfim, mesmo que, à luz da razão, os fatos que nos rodeiam questionem todo o tempo a justiça de Deus, as pessoas aceitam. Simples assim. Frequentam os ofícios religiosos normalmente, seguem em frente, continuam vivendo.

Como explicar a miséria extrema de uns em face da abundância de outros? E as doenças? Por que alguns são sadios fisicamente enquanto outros tombam nas camas de hospitais atirados à própria sorte sem nem mesmo uma palavra de conforto? E os acidentes que não matam, mas paralisam e ceifam a alegria de muitos? Por que algumas crianças nascem surdas, mudas, doentes, sem horizonte e sem esperança? Onde está a justiça de Deus? Os filhos pagam pelos pecados dos pais? Mas isso não é justiça!

O fato é que há muita coisa sem explicação. Não adianta esperar sentado por um céu que nunca virá. O perdão é estéril se não vier acompanhado da reparação dos erros cometidos! O céu e o inferno estão dentro de cada um, não fora. Mas cada um, cedo ou tarde, paga o preço da própria incúria e alienação.

Ninguém questiona a veracidade dos ensinamentos contidos nas Sagradas Escrituras.  Nem as diferentes interpretações.  E os que tentam pensar são marginalizados. Para o homem ocidental, a Bíblia é. E basta que Ela seja. Por saber disso, alguns a tornaram sua maior arma.


Nenhum comentário:

Postar um comentário