segunda-feira, 15 de julho de 2019

Máscaras e Ego


Máscaras são passageiras; usá-las em tempo integral fatalmente acarretará conflitos internos, dor e sofrimento. Vamos conversar um pouco a respeito do ego...

O conceito de ego integra a segunda tópica freudiana; nesta, Freud propõe uma nova divisão da psique, desta vez, em três instâncias: id, ego e superego. Embora haja uma forte inter-relação entre essas instâncias, elas têm características próprias e podemos separá-las para fins didáticos. Interessa-nos, sobretudo, o conceito de ego para os objetivos a que esta mensagem se propõe. Transcreverei, em seguida, alguns fragmentos extraídos do Vocabulário da Psicanálise, no que se refere a esse conceito:

Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente no conflito neurótico o polo defensivo da personalidade: põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia). (...)

Relativamente à primeira teoria do aparelho psíquico, o ego é mais vasto do que o sistema Pré-Consciente-Consciente, na medida em que as suas operações defensivas são em grande parte inconscientes. (1983, p. 171-172)

Mais à frente, lemos no mesmo Vocabulário:

(...) Freud abriu aqui um caminho largamente explorado pelos seus sucessores: Houve quem descrevesse técnicas defensivas do ego que não são apenas inconscientes no sentido de o indivíduo ignorar os seus motivos e o seu mecanismo, mas ainda porque apresentam um aspecto compulsivo, repetitivo, desreal, que as aparenta com o recalcado contra que lutam. (1983, p. 183)

Vários são os motivos que levam à ativação de mecanismos de defesa por parte do ego: sentimentos de dor, vergonha e autocensura, conflitos motivados por desejos ou sentimentos opostos (por exemplo, amor e ódio para com um dos pais, sentimentos contraditórios entre aquilo que se é e aquilo que se quer ser), desejos que são inconciliáveis com a imagem que a pessoa faz de si mesma e muitos outros.

Tais sentimentos tendem a angustiar o indivíduo e, em decorrência, o material conflitante, geralmente, é recalcado, ou seja, mantido fora da consciência. Todavia, esse material faz pressão para ter acesso à consciência e ocorre um jogo de forças, pois o material recalcado, e portanto inconsciente, não é destruído; ao contrário, permanece “vivo” e tentaforçar a passagempara a consciência.

Em contrapartida, o ego, a fim de manter a integridade psíquica do sujeito, tenta impedir o acesso desse material à consciência, acionando para tal os mecanismos de defesa. Observe-se, contudo, que muitos desses conteúdos conseguem escapar parcialmente à vigilância do ego; como essa “fuga” é apenas parcial, eles aparecem, geralmente, mascarados em nossos sonhos.

Como todas as escolhas que fazemos, também aquium preço a ser pago; todavia, o preço de usar uma máscara em tempo integral é muito alto. Muitas vezes, usamos uma máscara tão somente com base naquilo que acreditamos que uma determinada pessoa espera de nós; contudo, nossas crenças podem estar equivocadas, pois nossos julgamentos não são infalíveis. Lembremo-nos de que não temos o poder de "entrar na cabeça do outro" para "descobrir" o que ele espera de nós.

Os diferentes papéis que assumimos ao longo de nossas vidas são necessários e estabelecidos por meio de acordos tácitos entre os membros de uma mesma comunidade; usar máscaras é muito diferente, pois, nesse caso, mostramos ao outro algo que não somos, o que não ocorre quando assumimos diferentes papéis.

Jung aborda com muita propriedade, no conceito de persona inflacionada, os perigos a que ficamos expostos quando usamos uma máscara em tempo integral. Notem que o conflito ocorrerá em uma fase inicial do processo; a tendência é que ele seja substituído pela insensibilidade, momento em que deixamos de ser o que somos e passamos a ser tão somente uma máscara.




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