Palavras o vento não leva... Quem disse o
contrário se enganou. As palavras ditas ficam e, se retiradas, são como as
marcas de pregos que foram arrancados de uma tábua de madeira. As palavras
escritas também permanecem, mas, antes, podem ser apagadas, revistas ou
reescritas; o mesmo não se dá com a palavra falada. Depois de ditas, não é
possível mais apagá-las, revê-las ou “redizê-las”.
Se o vento não leva as palavras, prefira ficar
calado na hora da raiva. Conte até dez, saia de perto, reze, faça qualquer
coisa, mas não abra a boca porque as palavras, depois de ditas, não vão entrar
de volta na sua boca para que você não as diga. E o pior ainda estar por vir:
palavras ditas na hora da raiva nunca vêm sozinhas, ao contrário, estão sempre
acompanhadas por semblantes carregados, olhares atravessados, expressões
faciais ensombrecidas. Experimente olhar-se no espelho nessas horas. Você vai
se assustar tanto que será capaz de aprender a controlar-se.
Palavras podem ferir como facas, olhares podem
perfurar como agulhas afiadas. Prefira o silêncio. Quando se está com raiva, as
palavras não ditas são sempre muito mais felizes, pois não precisam ceder
espaço ao arrependimento vão. Palavras não ditas podem falar muito mais ao
coração, pois são afáveis e caridosas. Não ferem, não machucam, não atroam
quais trovões que ensurdecem os ouvidos e os sentidos.
Quando a raiva passa, as palavras que não foram
ditas são facilmente esquecidas porque, muito provavelmente, não eram sinceras.
E você não precisa olhar para trás a fim de recolher os cacos do que sobrou,
pois seu destino irremediável será o lixo, afinal colá-los assemelhar-se-á tão
somente a um triste objeto que jamais será o mesmo.
Há coisas que nunca devem ser ditas, pois podem doer mais do que um soco na boca do
estômago, mais do que um tiro no próprio pé. Há coisas que nunca podem ser ditas. É como dar um passo em
direção ao abismo. Quando o pé toca o ar, não há mais retorno possível. Há
somente o vazio à espera do pior destino que um ser humano pode buscar. Esse
mesmo vazio será sentido se uma palavra teimosa escapar da boca em hora
imprópria. É o vazio da perda, muitas vezes, irremediável.
É preciso calar diante das imperfeições do
outro, ainda que não haja reciprocidade. Prefira o silêncio, cuja voz pode soar
alto sem ferir. Ao silêncio segue a paz. À paz segue a harmonia. Não há lugar
para a perda e, menos ainda, para a dor porque não pode haver arrependimento
por algo que não foi dito. Não será preciso amargar a dor de ferir o outro,
mesmo que esse outro seja um desafeto, pois ninguém perde por fazer o bem simplesmente.
E o silêncio pode ser um modo muito eficaz de se fazer o bem.
Lembre-se sempre de que palavras o vento não
leva. Então, use-as para perfumar o ar para que elas fiquem em forma de amor e
fraternidade.
Que texto lindo, cheio de conselhos sábios, professora! Tomo-o doravante como código para a minha vida, na certeza de que, se eu realmente praticar esse precioso ensinamento, não vou precisar experimentar o fel do arrependimento. Parabéns, grande Mestra, pelo talento admirável,quer como escritora, quer como professora! Sou seu fã incondicional e muito honrado por ter sido seu aluno na UPE. Grande abraço, Carlos Alberto Martins - Recife.
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