quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ainda a ambiguidade


Bem, vamos estudar mais alguns casos de ambiguidade:

2. Ambiguidade com a posição do adjunto adverbial (Moreno e Guedes, 1991, com adaptações)

No refeitório da empresa, algumas funcionárias conversavam sobre seus filhos, até que uma delas mostrou às colegas um panfleto sobre a inauguração de uma nova loja de produtos alimentares para crianças. Vejamos a frase inicial do panfleto:

"Vocês sabiam que crianças que comem doces frequentemente ficam doentes?"

Uma das moças, ao ler o panfleto, imediatamente comentou:

Não estou entendendo, a frase quer dizer “Crianças que frequentemente comem doces ficam doentes” OU Crianças que comem doces ficam doentes frequentemente”?

Ninguém respondeu.

Onde estava o problema?

Em primeiro lugar, a Língua Portuguesa é uma língua de posição, isto é, a posição das palavras na frase é muito importante. No caso do advérbio frequentemente, o duplo sentido originou-se de sua má posição na frase. Uma coisa é as crianças ficarem doentes por causa do excesso de doces que comem (interpretação da primeira frase); outra coisa é ficarem doentes com frequência, não por excesso de doces, mas por alguns poucos que venham a comer (interpretação da segunda frase).

Ao tentar entender o sentido da frase (“Crianças que frequentemente comem doces ficam doentes” OU Crianças que comem doces ficam doentes frequentemente”?), a moça enunciou as correções que deveriam ter sido feitas no panfleto, de acordo com a intenção comunicativa do produtor do texto, isto é, da pessoa que redigiu o panfleto.

3. Ambiguidade com orações reduzidas (Moreno e Guedes, 1991)

Vejamos o exemplo abaixo (extraído dos autores supramencionados acima):

Pendurado no galho mais alto da goiabeira, o menino avistou um ninho de marimbondos.

A ambiguidade aqui se apresenta do seguinte modo:

Afinal, era o menino que estava pendurado ou o ninho de marimbondos?

Notem que a ambiguidade é causada pela anteposição da oração em negrito. Para evitá-la, devemos colocá-la ou junto de menino ou junto de ninho de marimbondos. Assim:

O menino, que estava pendurado no galho mais alto da goiabeira, avistou um ninho de marimbondos.

Na frase acima, fica claro que o menino estava penduradonão o ninho de marimbondos.

O menino avistou um ninho de marimbondos que estava pendurado no galho mais alto da goiabeira.

aqui, temos que o ninho estava pendurado, não o menino.

4. Ambiguidade nas orações adjetivas (Moreno e Guedes, 1991)

Vejamos os exemplos (extraídos dos mesmos autores):

Roubaram a cadeira do gabinete em que eu costumava trabalhar.

O problema aqui é o seguinte: a pessoa que escreveu a frase acima trabalhava naquela cadeira ou apenas no gabinete?

Para evitar a dupla interpretação, a pessoa poderia ter escrito:

Roubaram a cadeira do gabinete no qual eu costumava trabalhar.

Notem que, na frase acima, a pessoa deixa claro que trabalhava no gabinete.

A frase também poderia estar redigida nestes termos:

Roubaram a cadeira do gabinete na qual eu costumava trabalhar.

Na frase acima, fica claro que a pessoa trabalhava naquela cadeira.

Nessas frases, estamos lidando com referentes de gêneros distintos, pois cadeira = gênero feminino (a cadeira), daí termos usado na qual; gabinete = gênero masculino (o gabinete), daí termos usado no qual.

Mas e se ambos fossem do gênero feminino?

Vejam o exemplo (Moreno e Guedes, 1991):

Roubaram a cadeira da sala em que eu costumava trabalhar.

Aqui, para evitar a ambiguidade, precisaremos alterar um pouco a estrutura da frase

Assim:

Roubaram a cadeira de trabalho de minha sala.

OU

Roubaram a cadeira de minha sala de trabalho.

Aqui, substituímos o verbo trabalhar pela preposição de + o substantivo trabalho.

Um comentário: