quarta-feira, 25 de setembro de 2024

 Indignação e tristeza

Ontem, 24 de setembro de 2024, tive a alegria de conhecer a candidata GABI DA CAUSA ANIMAL, candidata ao cargo de vereador. A meu pedido, ela esteve no meu trabalho para resgatar uma cadela preta que está, literalmente, morrendo de fome, mas, infelizmente, quis o destino que não a encontrássemos, ao menos não ontem.

Também ontem, tomei conhecimento da luta de Gabi por uma vida digna para os animais; contou-me a candidata que, ao raiar de cada novo dia, um certo morador de rua, de facão em punho, vaga pela Orla de Petrolina à procura de cães sem tutor que dormem ali para amputar-lhes, a sangue frio, as patas, às vezes, na presença de policiais, que dão testemunho de como a omissão é tão (ou mais) desumana e impiedosa quanto a ação.

Que monstruoso abismo de pura maldade pode guiar um “ser humano” às torpezas mais sórdidas contra criaturas indefesas? Que omissão mais repugnante pode abrigar um coração que se diz “humano” e, com frequência, “bate no peito” e chama a si próprio de “temente a Deus”? Desconhece que Deus criou todos os seres vivos e de que o lugar do mais forte, neste Planeta de Provas e Expiações, é amparar o mais fraco?

De minha voz manam lágrimas, uivos e sangue... Alguém poderá me escutar? Por que esse morador de rua, aprisionado na própria perversidade, mantém o mesmo direito de ir e vir de corações verdadeiramente amorosos?

Há quem justifique tamanha miséria moral: doença mental? traumas? E a omissão das autoridades? Também se trata de doença mental ou traumas do pretérito? Como justificar o injustificável? Respostas? Maldade, pura maldade, prazer no mal para quem o faz e para quem, podendo impedi-lo, não o faz por pura miserabilidade de caráter.

PEÇO QUE MEU APELO SEJA LARGAMENTE DIVULGADO. Minha esperança é de que, com as bênçãos de Deus, aqueles que podem mudar esse estado de coisas saiam do próprio comodismo perverso e ajam de verdade. E que o caráter amputado dos que fazem o mal (e dos que mantêm os lábios selados e as mãos inertes) veja cada passo seu baldado por mãos que curam aqueles que nada fizeram além de simplesmente existir.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A Serpente e o Vaga-lume


Conta a lenda que uma vez uma serpente começou a perseguir um vaga-lume. Este fugia rápido, com medo da feroz predadora e a serpente nem pensava em desistir.

Fugiu um dia e ela não desistia. Dois dias, e nada...
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
– Posso lhe fazer três perguntas?
– Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar mesmo, podes perguntar...
– Pertenço a tua cadeia alimentar?
– Não.
– Eu te fiz algum mal?
– Não.
– Então, por que queres acabar comigo?
– Porque não suporto ver-te brilhar...

Autor Desconhecido

* * *


quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ainda a ambiguidade


Bem, vamos estudar mais alguns casos de ambiguidade:

2. Ambiguidade com a posição do adjunto adverbial (Moreno e Guedes, 1991, com adaptações)

No refeitório da empresa, algumas funcionárias conversavam sobre seus filhos, até que uma delas mostrou às colegas um panfleto sobre a inauguração de uma nova loja de produtos alimentares para crianças. Vejamos a frase inicial do panfleto:

"Vocês sabiam que crianças que comem doces frequentemente ficam doentes?"

Uma das moças, ao ler o panfleto, imediatamente comentou:

Não estou entendendo, a frase quer dizer “Crianças que frequentemente comem doces ficam doentes” OU Crianças que comem doces ficam doentes frequentemente”?

Ninguém respondeu.

Onde estava o problema?

Em primeiro lugar, a Língua Portuguesa é uma língua de posição, isto é, a posição das palavras na frase é muito importante. No caso do advérbio frequentemente, o duplo sentido originou-se de sua má posição na frase. Uma coisa é as crianças ficarem doentes por causa do excesso de doces que comem (interpretação da primeira frase); outra coisa é ficarem doentes com frequência, não por excesso de doces, mas por alguns poucos que venham a comer (interpretação da segunda frase).

Ao tentar entender o sentido da frase (“Crianças que frequentemente comem doces ficam doentes” OU Crianças que comem doces ficam doentes frequentemente”?), a moça enunciou as correções que deveriam ter sido feitas no panfleto, de acordo com a intenção comunicativa do produtor do texto, isto é, da pessoa que redigiu o panfleto.

3. Ambiguidade com orações reduzidas (Moreno e Guedes, 1991)

Vejamos o exemplo abaixo (extraído dos autores supramencionados acima):

Pendurado no galho mais alto da goiabeira, o menino avistou um ninho de marimbondos.

A ambiguidade aqui se apresenta do seguinte modo:

Afinal, era o menino que estava pendurado ou o ninho de marimbondos?

Notem que a ambiguidade é causada pela anteposição da oração em negrito. Para evitá-la, devemos colocá-la ou junto de menino ou junto de ninho de marimbondos. Assim:

O menino, que estava pendurado no galho mais alto da goiabeira, avistou um ninho de marimbondos.

Na frase acima, fica claro que o menino estava penduradonão o ninho de marimbondos.

O menino avistou um ninho de marimbondos que estava pendurado no galho mais alto da goiabeira.

aqui, temos que o ninho estava pendurado, não o menino.

4. Ambiguidade nas orações adjetivas (Moreno e Guedes, 1991)

Vejamos os exemplos (extraídos dos mesmos autores):

Roubaram a cadeira do gabinete em que eu costumava trabalhar.

O problema aqui é o seguinte: a pessoa que escreveu a frase acima trabalhava naquela cadeira ou apenas no gabinete?

Para evitar a dupla interpretação, a pessoa poderia ter escrito:

Roubaram a cadeira do gabinete no qual eu costumava trabalhar.

Notem que, na frase acima, a pessoa deixa claro que trabalhava no gabinete.

A frase também poderia estar redigida nestes termos:

Roubaram a cadeira do gabinete na qual eu costumava trabalhar.

Na frase acima, fica claro que a pessoa trabalhava naquela cadeira.

Nessas frases, estamos lidando com referentes de gêneros distintos, pois cadeira = gênero feminino (a cadeira), daí termos usado na qual; gabinete = gênero masculino (o gabinete), daí termos usado no qual.

Mas e se ambos fossem do gênero feminino?

Vejam o exemplo (Moreno e Guedes, 1991):

Roubaram a cadeira da sala em que eu costumava trabalhar.

Aqui, para evitar a ambiguidade, precisaremos alterar um pouco a estrutura da frase

Assim:

Roubaram a cadeira de trabalho de minha sala.

OU

Roubaram a cadeira de minha sala de trabalho.

Aqui, substituímos o verbo trabalhar pela preposição de + o substantivo trabalho.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Ambiguidade


Quando escrevemos algo, devemos nos preocupar com quem vai ler o que foi escrito por nós. Muitas vezes, quando escrevemos, achamos que tudo está fácil e simples, afinal, nós próprios sabemos o que estamos dizendo ou escrevendo. O problema é que não escrevemos para nós mesmos, mas para o outro. E é com esse outro — o leitorque devemos nos preocupar.

Para saber o que um leitor sofre, basta nos colocarmos no lugar dele: o que sentimos quando lemos algo que não entendemos direito? Não é uma sensação nada agradável. Para evitar esse tipo de problema, temos queatacar os grandes vilões da escrita. Paraatacá-los”, basta saber usá-los e, quando for o caso, não usá-los.

A ambiguidade, por exemplo, pode tornar-se um problema para quem lê. Ambiguidade significa duplo sentido (ambo, do latim, significa “dois”).

Pouca coisa pode ser pior do que o duplo sentido, pois, se oferecemos ao leitor algo que tenha duplo sentido, ele poderá interpretar de um modo ou de outro. Ocorre que, quase sempre, a interpretação dada por ele não é aquela pretendida por nós.

Como evitar a ambiguidade? Basta que conheçamos os principais casos em que ela pode ocorrer.

Vamos ao primeiro?

O exemplo abaixo foi extraído, com adaptações, de MORENO, C.; GUEDES, P. C. Curso básico de redação. São Paulo: Ática, 1991.

1. ambiguidade no antecedente dos pronomes

Vejamos a seguinte frase:

Jorge disse a seu irmão que ele perdera o emprego.

O problema aqui é claro: quem perdeu o emprego? Jorge ou o irmão?

O pronome ele deve ser usado com muita cautela, pois, teoricamente, pode se referir a qualquer coisa que não seja eu ou tu/você. Assim, pode se referir ao inspetor, ao médico, ao relatório, ao vaso, ao livro, ao pássaro...

Como corrigir a frase acima? Vejamos algumas correções possíveis:

Jorge disse a seu irmão: — perdi o emprego.

Jorge disse a seu irmão: — você perdeu o emprego.

Jorge, ao saber que perdera o emprego, contou tudo ao irmão.

Jorge disse ao irmão que ele (Jorge) havia perdido o emprego.

Vejamos outro exemplo:

O inspetor saiu apressado de sua sala. Antes, porém, escreveu um bilhete e deixou-o sobre a mesa da secretária recém-contratada:

"Fulana, o gerente geral e o diretor estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga a ele que a sua mulher ligou e precisa falar com ele com uma certa urgência. Muito obrigado."

A secretária, ao ler o bilhete, ficou, como é óbvio, se perguntando a qual dos dois deveria dar o recado, mas resolveu arriscar e, quando a reunião acabou, dirigiu-se ao senhor Fulano: "Senhor Fulano, sua esposa ligou e precisa lhe falar com uma certa urgência."

O senhor Fulano olhou para ela sem compreender e disse-lhe: “Mas como pode ser? Estou viúvotrês anos...”

Como esse constrangimento poderia ter sido evitado?

Bastaria que o bilhete tivesse sido redigido nos seguintes termos:

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga ao senhor Beltrano que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga ao segundo que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga a este que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

Se o recado fosse para o senhor Fulano:

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga ao senhor Fulano que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga ao primeiro que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

"Fulana, o senhor Fulano e o senhor Beltrano estão em reunião. Não os interrompa, mas, quando a reunião terminar, por favor, diga àquele que a mulher dele ligou e precisa falar-lhe com uma certa urgência. Muito obrigado."

Continuamos na próxima postagem.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Um pouco de gerúndio


Quando falamos ou escrevemos algo, devemos nos preocupar, em primeiro lugar...

...com a clareza;

...em segundo lugar, com a clareza;

...em terceiro lugar, com a clareza.

Por que a clareza é tão fundamental?

Porque, se não formos suficientemente claros, nossa comunicação não será eficaz por um motivo muito simples: não será entendida por nosso interlocutor.

E quem é o maior vilão da clareza? É o GERÚNDIO (forma verbal terminada emndo).

Suponham o seguinte diálogo:

O gerente estava ao telefone e andava de um lado para o outro...

Mas... a senhora pode resolver o meu problema?

Bem, senhor, vou estar telefonando para o inspetor de plantão...

Sim, mas quando será isso?

Bem, senhor, não se preocupe, pois vou estar providenciando...

Sim, entendi, mas será para hoje?

Bem, senhor, vou estar explicando a situação a ele e também vou estar passando um fax...

Mas...

Um "diálogo" assim não é nada produtivo.

Um dos maiores problemas de se usar o gerúndio é que ele não indica tempo, isto é, a idéia de tempo não está contida nessa forma verbal. Sabemos apenas que o gerúndio indica algo a meio caminho, isto é, algo que está se processando. Note-se que o traço durativo é inerente ao gerúndio.

Para ficar mais fácil, imagine a seguinte situação:

Você está atrasado para uma reunião importante. Alguém telefona para o seu celular para saber a que horas você chegará, ao que você responde:

"Estou chegando..."

Ao dizer "estou chegando", como o seu interlocutor saberá se você está a 5 minutos do escritório ou se acabou de sair de casa e ainda vai levar uns bons quarenta minutos para chegar?

Nãopara saber mesmo, afinal, o gerúndio não nos dá essa informação.

Como seria o diálogo entre o gerente que estava ao telefone e o seu interlocutor se o vício "vou + estar + –ndo" não houvesse sido usado?

Vejamos:

Mas... a senhora pode resolver o meu problema?

Bem, senhor, vou telefonar imediatamente para o inspetor de plantão e providenciar seus documentos ainda hoje.

Ótimo, obrigado.

Vou explicar a situação a ele e, em seguida, passarei um fax para solicitar seus documentos.

Muito obrigado.

Como vocês podem observar, o diálogo ficou simples, fácil e claro, sem "enrolações".

Vejam bem, quando as pessoas nos perguntam algo, elas esperam uma resposta clara, objetiva e, sobretudo, que responda ao que estão perguntando.

A expressão estarei providenciando, por exemplo, não é adequada porque relega a providência a um futuro incerto.

Devemos usar a expressão vou providenciar (reparem que o auxiliar está no presente, embora dê ideia de futuro), seguida de uma expressão indicadora de tempo para que o nosso interlocutor sinta que, realmente, faremos algo para atendê-lo.

Assim, devemos usar preferencialmente:

...vou providenciar hoje ainda;

...vou providenciar até às 16:00;

...vou providenciar amanhã pela manhã;

...vou providenciar, no máximo, em dois dias.

O uso apropriado de nossa língua também é uma forma de mostrar respeito e consideração pela pessoa do outro.

E na escrita?  Embora não seja o único, o mau uso do gerúndio é um dos maiores responsáveis pela falta de clareza dos textos em geral.

Pouca gente sabe (até porque, este assunto é pouco estudado), mas o gerúndio tem uma propriedade muito particular quando é usado junto de verbos que não sejam auxiliares.

Auxiliar é o verbo que contém os morfemas frasais (tempo, modo, número, pessoa):

Vejamos alguns exemplos:

...estou dormindo. (Auxiliar: presente do indicativo)

...estarei sonhando? (Auxiliar: futuro do presente)

...estava almoçando, quando a campainha tocou. (Auxiliar: pretérito imperfeito)

...fique estudando, enquanto ponho o jantar. (Auxiliar: presente do subjuntivo)

Reparem que o núcleo de sentido das expressões acima não está nos verbos auxiliares, mas sim nas formas verbais dormir, sonhar, almoçar e estudar, que estão sendo usadas no gerúndio.

Entretanto, o gerúndio é invariável, de modo que as idéias de tempo, modo, número e pessoa estão centradas justamente no verbo auxiliar.

O gerúndio deve ser usado, preferencialmente, ao lado dos verbos auxiliares (os principais auxiliares em Língua Portuguesa são os verbos ser e estar, masoutros, como ficar, parecer, continuar etc.).

Quando usado ao lado de verbos que não sejam auxiliares, o gerúndio designa simultaneidade de ações.

Quando usamos um verbo qualquer (que não seja auxiliar) seguido de gerúndio, estamos dizendo ao nosso interlocutor que as ações expressas por ambos (verbo + gerúndio) são simultâneas, isto é, ocorrem ao mesmo tempo.

O problema é que nem sempre queremos dizer que duas ações estão ocorrendo ao mesmo tempo!

Vejamos um exemplo:

O menino chegou cantando.

Na frase acima, nãoqualquer problema, pois uma pessoa pode chegar a algum lugar cantando, chorando, gritando... nada impede que tais ações ocorram ao mesmo tempo.

Mas:

Trouxe o almoço, entregando-o na recepção.

Temos uma frase que causa, no mínimo, um certo estranhamento, afinal ninguém pode, ao mesmo tempo, trazer e entregar alguma coisa; tais ações se processam em sequência, isto é, uma depois da outra; assim, a pessoa traz o almoço e entrega-o na recepção.

Para usarmos o gerúndio ao lado de outros verbos que não sejam os auxiliares, devemos estar seguros de que desejamos expressar ações simultâneas e que esse traço seja compatível com os dois verbos do par quando usados lado a lado, caso contrário, devemos empregar outras formas verbais seguidas de preposições ou outras expressões que tornem as nossas intenções claras para o nosso interlocutor.

Outro exemplo de frase que causa estranhamento à primeira vista:

Perdoando, desligamo-nos de quem nos ofendeu, ódio é vínculo que prende um ao outro, trazendo muitos infortúnios.

CARLOS, Antônio; CARVALHO, V. L. M. de. Reconciliação. São Paulo: Petit Editora, 1995, p. 31.

Não há simultaneidade entre prender e trazer; o ato de trazer é posterior; vejamos como ficaria a frase respeitada a sequência de ações no tempo:

Perdoando, desligamo-nos de quem nos ofendeu, ódio é vínculo que prende um ao outro e traz muitos infortúnios.

Uma última palavrinha.

Notem que costumo usar palavras como preferencialmente porque a língua não é uma ciência exata. Há contextos e contextos.