Com frequência,
precisamos usar conjunções
em nossos
textos , já
que são
elas as responsáveis
pelo encadeamento das partes do texto ;
muitas conjunções exigem que ponhamos uma vírgula
antes delas para
atender à sintaxe da sentença.
Os livros
– nossos companheiros
de todas as horas – ensinam-nos a viver .
Notem que
o travessão duplo
foi usado porque a frase
destacada está entre
o sujeito "os livros "
e o verbo "ensinam" (não podemos separar sujeito de verbo , mas podemos intercalar palavras , expressões
ou frases
entre eles ).
De um
modo geral ,
podemos substituir os travessões
por parênteses ;
todavia , temos de ter
em mente
que , apesar
das regras , os sinais
de pontuação contam ainda
com a subjetividade (ou estilo ) do produtor do texto, além
de uma boa dose de bom
senso e intuição
linguística (como é o caso do ponto e vírgula, por exemplo).
Os parênteses
têm como função
principal explicar algo que supostamente não
ficou bem entendido ;
nesse tipo de situação ,
não é conveniente
usar o travessão ,
cujas funções são ,
basicamente, marcar a alternância
de interlocutor em
um diálogo
e pôr em destaque uma expressão .
Nesse caso ,
não deveríamos usar
os parênteses , uma vez
que , se abrirmos um
parêntese , obrigatoriamente teremos de
fechá-lo, o que já
não ocorre com
o travessão; ademais, o uso dos parênteses já não teria a mesma função do
travessão simples. Também poderemos
redigir assim :
Amo os livros
– é fato , mas
não tanto
quanto você .
Reparem que ,
na frase acima ,
o produtor do texto
optou por usar
um único
travessão ; todavia ,
se tivesse usado o travessão duplo, a vírgula
teria sido mantida da mesma forma , uma vez que o seu uso independe do uso
do travessão ; a presença
da vírgula se justifica por sua exigência antes
da conjunção adversativa
(“mas ”) para atender à sintaxe da frase e marcar a oposição ao que foi
dito anteriormente:
Amo os livros
– é fato –, mas não
tanto quanto
você .
Assim que saímos daquele lugar
esquisito – eu sentia medo, era um lugar fantasmagórico, assustador mesmo –,
encontramos um homem de estranha aparência sentado sob
uma velha marquise.
A construção
está perfeitamente correta ;
vejamos o porquê : mais
uma vez , temos aqui
dois usos independentes , quais
sejam o duplo travessão
e a vírgula . Comecemos pelo
duplo travessão ;
temos aqui um
fragmento de um
texto narrativo cujo
narrador “interrompe” a narrativa para explicar o sentimento que
uma determinada situação ,
no caso , sair de um
determinado lugar, desperta nele; observem que
temos uma sobreposição de fragmentos, uma vez
que o primeiro continua a contar
a história , ao passo
que o segundo descreve o sentimento do narrador em
relação à história
que ele
próprio conta . Reparem que descrever o sentimento
do narrador é algo que
não faz parte
do fio condutor
da história , isto
é, não faz parte
da sequência da narrativa e é justamente por interromper esse fio condutor que essa sequência descritiva, que
está sobreposta à narrativa, deve vir destacada desta; por
isso , o uso
do duplo travessão .
No caso
da vírgula , o motivo
de ela estar ali não tem
nenhuma relação com
o travessão , uma vez
que ela
teria de estar ali
mesmo que
não houvesse os travessões ;
o que ocorre é o seguinte :
a língua portuguesa é uma língua de posição ,
o que significa que
a posição das palavras
na sentença interfere não só no sentido das palavras
mas também
em sua
função na frase ;
como se trata
de uma língua de posição ,
a sentença deverá ser ,
preferencialmente , estruturada na seguinte ordem :
[sujeito – verbo – objeto direto – objeto indireto – adjunto
adverbial]
Esta é a ordem
natural das palavras
em uma frase
enunciada em
língua portuguesa; no exemplo dado, a oração “Assim que saímos daquele lugar esquisito...”
exprime ideia de tempo ; convém ressaltar , nesse ponto , que as palavras ,
expressões ou
orações que
exprimem ideia de tempo são representadas na língua
pelos adjuntos
adverbiais (no caso dessa oração , temos uma oração
adverbial temporal ); ocorre que a posição
do adjunto adverbial é no final da frase ,
segundo a ordem
natural do português ;
por estar no início , deve vir marcado por vírgula para deixar registrado que ele está em posição
invertida, isto é, ele
está fora de sua
posição , e uma das funções
da vírgula é justamente
a de marcar o deslocamento
de palavras , expressões
ou orações
inteiras em uma frase
quando essas palavras ,
expressões ou
orações estão fora
de sua posição
natural .
Encontramos um homem de estranha
aparência sentado sob uma velha marquise
assim que saímos daquele lugar esquisito – eu sentia medo, era um lugar
fantasmagórico, assustador mesmo.
Ótimo material!!!
ResponderExcluirSemana que vem tem mais. Aproveite para se cadastrar!
ExcluirMaterial muito bom para o estudo da gramática, a pontuação. Sempre existia dúvidas na identificação do uso do travessão ao uso do parênteses; esse texto esclareceu as minhas dúvidas. Ótimo!
ResponderExcluirObrigada por seu comentário. Se tiver alguma outra dúvida, pode postar aqui.
ExcluirMuito bom esse texto sobre o uso correto da pontuação nos textos, pois sempre ocorria dúvidas sobre o uso do travessão e do parênteses. De grande relevância!
ResponderExcluirEm breve farei um post sobre o uso do ponto e vírgula.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente texto, professora! Estou escrevendo uma história (um livro, talvez), e estou sempre fazendo uso do [duplo] travessão. Ter lido sobre isso — e ainda por cima por meio de uma fonte tão confiável — será bastante útil. Fico muito agradecido pela publicação. Abraços!
ResponderExcluirOi, querido! Que surpresa boa! Então, em breve teremos um novo autor na praça? Parabéns! Continue frequentando o blog, estou postando textos aqui toda semana. Obrigada por seu comentário tão gentil.
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