terça-feira, 20 de agosto de 2019

Carência de Humanidade


Eu tencionava falar mais um pouco sobre o ponto e vírgula, mas mudei de ideia (ao menos por hoje) diante das notícias que tenho escutado. É bem verdade que passei boa parte do meu dia pensando em coisas que não têm a menor importância quando paramos para refletir sobre o lodo em que se afunda a humanidade.

Soube hoje que o sol de São Paulo coloriu-se de negro como um triste retorno das queimadas da Amazônia. Soube ainda que é permitido caçar animais silvestres lá por esporte. Será que essas notícias são verdadeiras? Caçar por esporte? E os animais morrendo queimados? A selvageria do ser humano chegou a um patamar perigoso. O que mais podemos esperar? É o ódio que faz isso? A falta de Deus no coração? A cobiça? Que sanha é essa que só destrói?

O que está acontecendo com o ser humano? Curiosamente, o ser humano está carecendo de princípios básicos de humanidade e compaixão para com o próximo, seja ele uma pessoa, seja um animal ou outro ser vivo. A humanidade está doente. As pessoas estão doentes. Doentes de raiva, inveja, cobiça, ganância, egoísmo. A maldade campeia não somente em plagas outras, mas aqui ao lado mesmo. As pessoas não se olham mais e, quando o fazem, fazem-no sem se ver. Ontem um cachorro de raça, idoso já, foi sequestrado aqui em Petrolina. Parece coisa pouca, mas não é. Há uma história de amor entre o animal e seus donos. Desprezar os sentimentos alheios para ganhar mais dinheiro com a venda de um animal chega a ser nefando. Quando eu soube disso, fiquei em pânico achando que alguém poderia querer roubar minha vira-lata; expus meu temor para sua Personal Dog, ao que ela me tranquilizou dizendo que minha cadela não tem preço, tem valor. Sem perceber, ela formou um belo par de quase-sinônimos (não reparem o hífen, pois vou usá-lo à revelia das regras sempre que considerar lógico).

Estou misturando fatos graves com banalidades – alguém poderá pensar; teria sido melhor falar sobre o ponto e vírgula. Eu já não assisto ao jornal mesmo. As notícias só trazem dor e sofrimento. O que mais esperar? Ah, o sequestrador do ônibus foi morto pela bala de um atirador de elite lá na Ponte Rio-Niterói. O que o futuro reserva para nós? Será que estamos tão endurecidos a ponto de só pensar nos pequenos problemas do dia a dia?

Mesmo que tenhamos de devassar os páramos da consciência, os confins do inconsciente, esquadrinhar cada recanto de nossa casa mental, resgatemos a humanidade que existe em cada um de nós. Peçamos a Deus piedade por toda essa doença generalizada que infecta o homem há milênios. Vamos pedir compaixão, afinal o mais mísero facínora tem alguém que o ame, e ele próprio nutre um sentimento de amor puro por alguma coisa, mesmo que por um simples objeto.

Vamos pedir a Deus que lave o ódio e a revolta nas lágrimas da compaixão porque quem devasta florestas, maltrata, mata por esporte, explora, destrói a esperança alheia só pode merecer compaixão. É o que devemos sentir por um doente. E outra hora qualquer eu falo mais do ponto e vírgula.


3 comentários:

  1. Que adorável cronista você, professora Claudia! Bom gosto, elegância e clareza compoem o estilo gostoso de quem escreve porque sabe escrever! Leio a sua literatura com uma alegria de menino pobre que ganha o primeiro presente em época de Natal ou no dia de aniversário, sempre encantado, sempre com o mesmo deslumbramento... E como tenho aprendido com a leitura de seus textos! Agradeço a generosidade da moça intelectual que não se furtou a dividir conosco a beleza de sua criaçåo literária e nem as sábias e edificantes lições de gramática literariamente ensinadas. Nunca me enfado de dizer que me sinto honrado e feliz por ter sido seu aluno. Grande Mestra! Grande escritora! Grande ser humano! Amo você. Respeitosamente, Carlos Alberto Martins - Recife.

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  2. Muito obrigada por suas palavras tão gentis, Carlos. Continue acompanhando o blog, posto mensagens aqui toda semana.

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  3. Acompanharei sim com alegria, fico ansioso por ler o novo texto, sempre o aguardo com impaciência. Seu texto me alimenta a alma, me dá uma felicidade imensa, a professora não imagina. Um grande abraço, Mestra! Carlos.

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