Eu tencionava falar mais um pouco sobre o ponto
e vírgula, mas mudei de ideia (ao menos por hoje) diante das notícias que tenho
escutado. É bem verdade que passei boa parte do meu dia pensando em coisas que
não têm a menor importância quando paramos para refletir sobre o lodo em que se
afunda a humanidade.
Soube hoje que o sol de São Paulo coloriu-se de
negro como um triste retorno das queimadas da Amazônia. Soube ainda que é
permitido caçar animais silvestres lá por esporte. Será que essas notícias são
verdadeiras? Caçar por esporte? E os animais morrendo queimados? A selvageria
do ser humano chegou a um patamar perigoso. O que mais podemos esperar? É o
ódio que faz isso? A falta de Deus no coração? A cobiça? Que sanha é essa que
só destrói?
O que está acontecendo com o ser humano?
Curiosamente, o ser humano está carecendo de princípios básicos de humanidade e
compaixão para com o próximo, seja ele uma pessoa, seja um animal ou outro ser
vivo. A humanidade está doente. As pessoas estão doentes. Doentes de raiva,
inveja, cobiça, ganância, egoísmo. A maldade campeia não somente em plagas
outras, mas aqui ao lado mesmo. As pessoas não se olham mais e, quando o fazem,
fazem-no sem se ver. Ontem um cachorro de raça, idoso já, foi sequestrado aqui
em Petrolina. Parece coisa pouca, mas não é. Há uma história de amor entre o
animal e seus donos. Desprezar os sentimentos alheios para ganhar mais dinheiro
com a venda de um animal chega a ser nefando. Quando eu soube disso, fiquei em
pânico achando que alguém poderia querer roubar minha vira-lata; expus meu
temor para sua Personal Dog, ao que
ela me tranquilizou dizendo que minha cadela não tem preço, tem valor. Sem perceber, ela formou um belo par de
quase-sinônimos (não reparem o hífen, pois vou usá-lo à revelia das regras
sempre que considerar lógico).
Estou misturando fatos graves com banalidades –
alguém poderá pensar; teria sido melhor falar sobre o ponto e vírgula. Eu já
não assisto ao jornal mesmo. As notícias só trazem dor e sofrimento. O que mais
esperar? Ah, o sequestrador do ônibus foi morto pela bala de um atirador de
elite lá na Ponte Rio-Niterói. O que o futuro reserva para nós? Será que
estamos tão endurecidos a ponto de só pensar nos pequenos problemas do dia a
dia?
Mesmo que tenhamos de devassar os páramos da
consciência, os confins do inconsciente, esquadrinhar cada recanto de nossa
casa mental, resgatemos a humanidade que existe em cada um de nós. Peçamos a
Deus piedade por toda essa doença generalizada que infecta o homem há milênios.
Vamos pedir compaixão, afinal o mais mísero facínora tem alguém que o ame, e ele
próprio nutre um sentimento de amor puro por alguma coisa, mesmo que por um
simples objeto.
Vamos pedir a Deus que lave o ódio e a revolta
nas lágrimas da compaixão porque quem devasta florestas, maltrata, mata por
esporte, explora, destrói a esperança alheia só pode merecer compaixão. É o que
devemos sentir por um doente. E outra hora qualquer eu falo mais do ponto e
vírgula.
Que adorável cronista você, professora Claudia! Bom gosto, elegância e clareza compoem o estilo gostoso de quem escreve porque sabe escrever! Leio a sua literatura com uma alegria de menino pobre que ganha o primeiro presente em época de Natal ou no dia de aniversário, sempre encantado, sempre com o mesmo deslumbramento... E como tenho aprendido com a leitura de seus textos! Agradeço a generosidade da moça intelectual que não se furtou a dividir conosco a beleza de sua criaçåo literária e nem as sábias e edificantes lições de gramática literariamente ensinadas. Nunca me enfado de dizer que me sinto honrado e feliz por ter sido seu aluno. Grande Mestra! Grande escritora! Grande ser humano! Amo você. Respeitosamente, Carlos Alberto Martins - Recife.
ResponderExcluirMuito obrigada por suas palavras tão gentis, Carlos. Continue acompanhando o blog, posto mensagens aqui toda semana.
ResponderExcluirAcompanharei sim com alegria, fico ansioso por ler o novo texto, sempre o aguardo com impaciência. Seu texto me alimenta a alma, me dá uma felicidade imensa, a professora não imagina. Um grande abraço, Mestra! Carlos.
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